III
Quando o menino chegou, Maria já foi o fuzilando com uma série de perguntas:
- Qual é o seu nome? - ela perguntou, com o nariz empinado.
- É... José - o menino apertava a camiseta com força, não despregando os olhos do chão.
- Humm... quanto ano você tem, José?
- Dez.
- O que está fazendo aqui?
- Estou acompanhando minha mãe - ele levantou os olhos por alguns segundo, para encarar os belos olhos da estranha - Trouxe o pão.
- Pão? - Maria sentiu a boca se encher de saliva, nunca tinha experimentado aquela massa fresquinha e crocante - Para quem?
- Eu... eu não sei. Só recebi ordens de minha mãe para compra-lo.
Maria colocou os dedos nos lábios e levantou os olhos, pensando.
- Mas aqui ninguém come pão - ela volveu os olhos para o outro - Você dever ter se enganado, garotinho.
José continuou em silencio, mordendo os lábios.
- Então você é filho de Tábata? - ela recomeçou.
- Sim...
Maria lembrou-se do menino que Tábata falava superficialmente, dizia que ele era forte, bom garoto, mas tinha poucos amigos e seu maior sonho era trabalhar na fazenda onde o pai estava. Tábata falava rindo e revirando os olhos, enquanto costurava um vestido, mas seus olhos eram um misto de paixão e orgulho.
- Você tem poucos amigos?
José sentiu como se estivesse levado um soco. Quem aquela menina pensava que era, para se meter em sua vida? Só porque era rica pensava que tinha o direito de fazer qualquer pergunta? Zomba-lo? Com uma ligeira rouquidão respondeu, agora, encarando intensamente os olhos da outra:
- Por que você quer saber disso?
- Não sei, Tábata um dia comentou - a menina enrugou a testa - Ou talvez porque eu também não tenha, e queira saber se mais alguém compartilha dessa mesma infelicidade - ela lançou um sorriso sincero e amigo.
José ficou boquiaberto, finalmente visualizou na menina o anjo que imaginará, mas era um anjo com um sorriso tão infeliz e a expressão tão abatida, sentiu vontade de abraça-la e consola-la.
- Mas... - ele gaguejou e abaixou os olhos novamente, apertando a embalagem onde estava os pães.
- Humm... - ela franziu o nariz - Que cheirinho gostoso.
- Dever ser do pão. Você quer?
- Quero, espere um pouquinho - ela apontou para o jequitibá - Espere aí em baixo da árvore.
José encaminhou-se ao jequitibá, enquanto a outra sumia em uma onda loira esvoaçante. Será que essa era Maria, a anjinha, prisioneira da mansão? Sempre achou que essas meninas mais ricas fossem gordinhas, com os rostos corados e que tinham as bochechas doloridas de tanto sorrirem. Ela era diferente, tão magrinha e com um olhar tão triste e solitário. Sentou no gramado, encostando as costas no grosso tronco.
Maria corria em direção à cozinha, tentando fazer o mínimo barulho possível. As criadas não estavam lá, com certeza estavam no segundo andar arrumando os quartos. Correu em direção da despensa, onde tinha descoberto uma grande provisão de manteiga, geléias, tortas e outros doces calóricos, que sua avó tinha a proibido de comer. Já estava saindo com um pouco de manteiga e geléia, quando escutou um barulho alto vindo da cozinha.
- José! José! - era Tábata, soltando um grito rouco da janela da cozinha. José não iria escutar, já que a mansão era grande e a árvore onde o menino ficará ficava a muitos passos onde estavam - Mas onde está esse moleque! - ela colocou cuidadosamente o vestido em cima da mesa e saiu em direção onde tinha vindo.
Maria segurou a manteiga e a geléia com força e saiu correndo. Mesmo que tivesse um preparo físico ruim, era leve, então chegou com uma grande diferença, na janela onde estava.
- Ei, José! - ela gritou, despertando o cochilo do menino, debaixo daquela sombra fresca - Me ajuda aqui.
Ela já tinha colocado metade do tronco para fora da janela. José, apreensivo, ajudou-a a descer, sentiu o corpo tão delicadinho debaixo daquele monte de tecido e renda, as costelas bem promenientes e a respiração ofegante. Desejou poder ajuda-lá de alguma forma.
- Vamos - ela já tinha jogado os potes com manteiga e geléia dentro da sacola de pães e agarrado sua mão - Sua mãe tá vindo.
José mordeu os lábios. Maria já puxava ele com força pela mão e os dois saíram correndo, afastando-se cada vez mais da mansão e dos gritos de Tábata.
domingo, 9 de dezembro de 2012
quinta-feira, 6 de dezembro de 2012
Rosa Negra - capítulo II
II
Maria levantou-se no mesmo horário de sempre. Os pássaros já cantavam alto e a luz da manhã inundava o elegante quarto da menina. A pequena abriu os pequenos olhos da cor de um belo céu azul e límpido de verão, os cabelos cor do sol estavam bagunçados no travesseiro de penas e a pele era da cor das brancas e fofas nuvens que enfeitam o céu. Maria calçou a pequena chinela e sentou na penteadeira, que um dia pertencera a sua mãe. Olhou seu rosto doente e inexpressivo, sua face era fina e sem cor, os lábios brancos e ressecados e o corpo magrelo e fraco. Maria desembaraçava os finos cabelos enquanto se lembrava da época que tinha apenas cinco anos, as imagens eram confusas e embaralhadas, mas lembrava-se da mãe, sentia falta daquela moça que a avó tanto odiava e desejava apaga-la de sua vida. Uma lágrima fria e solitária escorreu pelo rosto pálido da garota.
Foi em direção as escadas de carvalho sólido, descia escutando a movimentação da cozinha e os leves ruídos que viam da sala de jantar, onde sua avó se encontrava. Tinha que ter horários tão rígidos, a alimentação tão rígida, a educação tão rígida. Gostaria de, um dia, correr descalça pela casa, rindo e gritando, devorar doces e mais doces, visitar a vila, correr no campo verde, cantar mais alto que os pássarinhos e viver as aventuras emocionantes de seus livros. Livros... eram seu único consolo, já tinha vivido tantas aventuras sem sair de casa, com oito anos já tinha lido romances complicados, mas sentia um vazio. Como se algo faltasse para completa-lá.
Dirigiu-se à sala de jantar para encontrar a mulher mais elegante do vilarejo. Ao contrário das outras "vovós", que eram gordinhas, a coluna inclinada e distribuíam comidas gostosas e brincadeiras, sua avó tinha o perfil e jeito de rainha. Altura mediana, coluna ereta, corpo elegante, cabelos curtos e acinzentados e os olhos azul-celestes, típicos dos descendentes alemães.
A mesa estava composta de frutas e mais frutas e mingau. A avó retirou os óculos, que usava para ler o jornal, e fuzilou a neta com seus olhos brilhantes e rígidos:
- Sente-se e coma seu mingau! - seu tom era ríspido, o que fazia Maria sentir calafrios no corpo todo.
- Não tenho fome vovó - sua voz não passava de um sussurro, enquanto encarava a massa branca e grudenta que era a refeição matinal.
- Pelo menos coma umas frutas, menina. Está tão magra e desnutrida que pode desmaiar a qualquer momento.
Maria sentou-se, enquanto encarava os vários pratos de frutas: bananas, laranjas, uvas, maças, jabuticabas. Gostaria de, pelo menos uma vez, poder saborear com a avó uma imensa torta de morango com chocolate que Tábata fizera escondida no seu aniversário de sete anos. Foi um dos momentos mais felizes de sua vida quando colocou na boca a colher inundada de chocolate com pedacinhos de morango.
A menina continuava encarando as frutas, esperando Tábata chegar, pedira para ela fazer um vestido parecido com a ilustração de Alice no País das Maravilhas.
- Eu vou na janela - ela se levantou, recolhendo uma das enormes e vermelhas maças.
- Invés de passar tanto tempo enfiada nos livros, podia começar a ajudar na casa. - a avó comentou, secamente.
Um nó formou-se na garganta de Maria, já tentara ajudar muitas vezes, seja lavando louça, esfregando o chão ou até arrumando sua cama, mas não tinha dado certo, sempre quando fazia uma dessas coisas seu coração disparava, ela perdia o controle do próprio corpo e logo o desmaio ocorria. A avó sempre comentava que era falta de prática ou então pela sua péssima alimentação. Isso fazia Maria se sentir mais inútil e indesejada por parte da avó, já que todas as criadas a amavam. Estavam sempre dando chocolates escondidos, fazendo bonecas e vestidos e trançando seu cabelos, diziam que era uma garota muito educada e que dava pouquíssimo trabalho.
Pegou o livro que estava lendo: Razão e Sensibilidade, de Jane Austen. Imaginava quando seria sua vez de viver um romance daquele estilo, ele iria brincar de boneca com ela, dividir um doce e correr em uma campina enorme e cheia de flores.
Sentou-se no lugar de costume, a janela tinha um peitoril do tamanho exato de Maria, com uma almofadinha vermelha em cima, a sombra de um jequitibá protegia o rosto da menina dos raios quente do sol.
Estava concentrada na leitura, quando escutou passos aproximando-se da mansão, visualizou Tábata com seu vestido azul contornando a casa, do lado oposto onde estava, segurando o vestido, junto com um menino alto e forte que encarava Maria fixamente, cheio de curiosidade. Ele devia ter entre 10 anos, a pele cor de azeviche e os cabelos ralos e olhos eram negros e infantis. Maria ficou curiosa, com esforço conseguiu levantar a janela e gritou:
- Ei garoto, venha aqui!
O menino se sobressaltou e foi, tremendo e vacilando, enquanto encarava os sapatos velhos. Maria riu alto, pois um garoto tão forte, que poderia quebra-la no meio, estava vacilando como um cachorrinho. O menino corou intensamente ao escutar a risada alta da estranha, sentia-se mais humilhado e inferior.
Maria levantou-se no mesmo horário de sempre. Os pássaros já cantavam alto e a luz da manhã inundava o elegante quarto da menina. A pequena abriu os pequenos olhos da cor de um belo céu azul e límpido de verão, os cabelos cor do sol estavam bagunçados no travesseiro de penas e a pele era da cor das brancas e fofas nuvens que enfeitam o céu. Maria calçou a pequena chinela e sentou na penteadeira, que um dia pertencera a sua mãe. Olhou seu rosto doente e inexpressivo, sua face era fina e sem cor, os lábios brancos e ressecados e o corpo magrelo e fraco. Maria desembaraçava os finos cabelos enquanto se lembrava da época que tinha apenas cinco anos, as imagens eram confusas e embaralhadas, mas lembrava-se da mãe, sentia falta daquela moça que a avó tanto odiava e desejava apaga-la de sua vida. Uma lágrima fria e solitária escorreu pelo rosto pálido da garota.
Foi em direção as escadas de carvalho sólido, descia escutando a movimentação da cozinha e os leves ruídos que viam da sala de jantar, onde sua avó se encontrava. Tinha que ter horários tão rígidos, a alimentação tão rígida, a educação tão rígida. Gostaria de, um dia, correr descalça pela casa, rindo e gritando, devorar doces e mais doces, visitar a vila, correr no campo verde, cantar mais alto que os pássarinhos e viver as aventuras emocionantes de seus livros. Livros... eram seu único consolo, já tinha vivido tantas aventuras sem sair de casa, com oito anos já tinha lido romances complicados, mas sentia um vazio. Como se algo faltasse para completa-lá.
Dirigiu-se à sala de jantar para encontrar a mulher mais elegante do vilarejo. Ao contrário das outras "vovós", que eram gordinhas, a coluna inclinada e distribuíam comidas gostosas e brincadeiras, sua avó tinha o perfil e jeito de rainha. Altura mediana, coluna ereta, corpo elegante, cabelos curtos e acinzentados e os olhos azul-celestes, típicos dos descendentes alemães.
A mesa estava composta de frutas e mais frutas e mingau. A avó retirou os óculos, que usava para ler o jornal, e fuzilou a neta com seus olhos brilhantes e rígidos:
- Sente-se e coma seu mingau! - seu tom era ríspido, o que fazia Maria sentir calafrios no corpo todo.
- Não tenho fome vovó - sua voz não passava de um sussurro, enquanto encarava a massa branca e grudenta que era a refeição matinal.
- Pelo menos coma umas frutas, menina. Está tão magra e desnutrida que pode desmaiar a qualquer momento.
Maria sentou-se, enquanto encarava os vários pratos de frutas: bananas, laranjas, uvas, maças, jabuticabas. Gostaria de, pelo menos uma vez, poder saborear com a avó uma imensa torta de morango com chocolate que Tábata fizera escondida no seu aniversário de sete anos. Foi um dos momentos mais felizes de sua vida quando colocou na boca a colher inundada de chocolate com pedacinhos de morango.
A menina continuava encarando as frutas, esperando Tábata chegar, pedira para ela fazer um vestido parecido com a ilustração de Alice no País das Maravilhas.
- Eu vou na janela - ela se levantou, recolhendo uma das enormes e vermelhas maças.
- Invés de passar tanto tempo enfiada nos livros, podia começar a ajudar na casa. - a avó comentou, secamente.
Um nó formou-se na garganta de Maria, já tentara ajudar muitas vezes, seja lavando louça, esfregando o chão ou até arrumando sua cama, mas não tinha dado certo, sempre quando fazia uma dessas coisas seu coração disparava, ela perdia o controle do próprio corpo e logo o desmaio ocorria. A avó sempre comentava que era falta de prática ou então pela sua péssima alimentação. Isso fazia Maria se sentir mais inútil e indesejada por parte da avó, já que todas as criadas a amavam. Estavam sempre dando chocolates escondidos, fazendo bonecas e vestidos e trançando seu cabelos, diziam que era uma garota muito educada e que dava pouquíssimo trabalho.
Pegou o livro que estava lendo: Razão e Sensibilidade, de Jane Austen. Imaginava quando seria sua vez de viver um romance daquele estilo, ele iria brincar de boneca com ela, dividir um doce e correr em uma campina enorme e cheia de flores.
Sentou-se no lugar de costume, a janela tinha um peitoril do tamanho exato de Maria, com uma almofadinha vermelha em cima, a sombra de um jequitibá protegia o rosto da menina dos raios quente do sol.
Estava concentrada na leitura, quando escutou passos aproximando-se da mansão, visualizou Tábata com seu vestido azul contornando a casa, do lado oposto onde estava, segurando o vestido, junto com um menino alto e forte que encarava Maria fixamente, cheio de curiosidade. Ele devia ter entre 10 anos, a pele cor de azeviche e os cabelos ralos e olhos eram negros e infantis. Maria ficou curiosa, com esforço conseguiu levantar a janela e gritou:
- Ei garoto, venha aqui!
O menino se sobressaltou e foi, tremendo e vacilando, enquanto encarava os sapatos velhos. Maria riu alto, pois um garoto tão forte, que poderia quebra-la no meio, estava vacilando como um cachorrinho. O menino corou intensamente ao escutar a risada alta da estranha, sentia-se mais humilhado e inferior.
sábado, 1 de dezembro de 2012
Livro: O Morro dos Ventos Uivantes (Emily Bronte)
Sinopse: Na fazenda chamada Morro dos Ventos Uivantes nasce uma paixão devastadora entre Heathcliff e Catherine, amigos de infância e cruelmente separados pelo destino. Mas a união do casal é mais forte do que qualquer tormenta: um amor proibido que deixará rastros de ira e vingança. "Meu amor por Heathcliff é como uma rocha eterna. Eu sou Heathcliff", diz a apaixonada Cathy. O único romance escrito por Emily Brontë e uma das histórias de amor mais surpreendentes de todos os tempos, O Morro dos Ventos Uivantes é um clássico da literatura inglesa e tornou-se o livro favorito de milhares de pessoas!
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