domingo, 23 de setembro de 2012

Partida (parte 1)



   Abriu os grandes olhos azuis com dificuldade. Sentia-se tonta e desnorteada, a cabeça pesava e os lábios estavam secos. Aparelhos apitavam compassadamente ao seu lado, levantou um pouco a cabeça e nesse simples movimento sentiu náuseas e jogou a cabeça no travesseiro macio. Observou atentamente o que havia ao seu redor. Parecia aparelhos de um hospital. Era um hospital. A cama era dura e composta pelo lençol branco que cobria o corpo pequenino da menina. Os longos cabelos prateados da garota estavam cobrindo todo o travesseiro. Ela sentia a pele queimar em todos os lugares, estremeceu, estava morrendo de frio, levantou a mão com muito esforço até a testa que queimava de febre. Virou a cabeça para o lado esquerdo e viu uma cama ao lado. Uma bela menina loira descansava, era mais velha, mais alta e estava com o rosto virado para ela, a expressão era um misto de paz e amor. A garota de cabelos prateados estranhou o corpo imóvel da outra, o peito não se mexia, não se escutava nem um pequeno ressonar do sono.
    Mais uma onde calafrios percorreu seu corpo, tentou se lembrar de alguma coisa, mas a mente rodava. Concentrou-se. Seu nome era... Apertou os olhos... Seu nome era Letícia, tinha 13 anos, sua cor preferida era verde, gostava de bolo de abacaxi e sua fruta favorita era melão. Virou o rosto novamente para a garota que descansava. Cabelos dourados, o corpo esbelto e a expressão calma e serena... Era sua irmã, Luna. Sentiu uma dor no peito, como se estivesse sofrido uma perda. Mas não era só Luna, tinha mais uma irmã... Lara, a pequena de cabelos cor de bronze, o corpo rechonchudo, que estava sempre aprontando, perseguindo uma borboleta ou caindo da bicicleta. Eram as três: Lara, ela e Luna.
    Espreguiçou um pouco, o que provocou uma dor intensa em todas as partes do corpo e mais náuseas. Esperou, os minutos se arrastavam e o corpo doía mais, era difícil manter os olhos abertos e os lábios estavam rachando-se. Letícia sentia dores de cabeça, uma dor de barriga intensa. Era a pior dor que já sentira na vida.
    Mais alguns minutos se passaram quando uma mulher entrou. Parecia ter entre 35 ou 40 anos, cabelos pretos, um pouco grisalhos, alta e magra, com uma expressão severa, não deixando escapar nada de sua visão. Chegou um perto da cama de Luna, rapidamente empalideceu, os lábios começaram e tremer como se reprimisse um grito. Checou o pulso, colocou a mão sobre o peito da menina... Nada. A mulher parecia realmente desesperada, enquanto a garota, o motivo de tamanha confusão, continuava o repouso longo, tranquilo e eterno. Letícia escutou um bipe continuo vindo dos aparelhos que estavam com Luna. Tremeu. Sentiu vontade de gritar, chorar, correr e abraçar o corpo sereno de Luna. Luna estava morta? Essa palavra  pesou na consciência inocente de Letícia.
 

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